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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A origem do jeitinho brasileiro


"Temos enraizado uma tradição muito forte de poder relacionado ao indivíduo que o detém", avalia Denise. "E isso até hoje interfere na maneira como vemos os direitos e deveres desse tipo de funcionário.""A coroa portuguesa estimulava pessoas e dizia: 'vão para o interior e podem mandar à vontade por lá', na tentativa de garantir a soberania do império com alguém morando no local"
Corrupção no Brasil tem origem no período colonial, diz historiadora
Mariana Della Barba
da BBC Brasil em São Paulo
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O motorista que oferece uma cerveja para o guarda não multá-lo. O fiscal que cobra uma "ajuda" do comerciante. O ministro que compra apoio político. A corrupção está enraizada em vários setores da sociedade brasileira. E nada disso é recente, segunda a historiadora Denise Moura, que diz que a prática chegou junto com as caravelas portuguesas.
"Quando Portugal começou a colonização, a coroa não queria abrir mão do Brasil, mas também não estava disposta a viver aqui. Então, delegou a outras pessoas a função de ocupar a terra e de organizar as instituições aqui", afirma a historiadora.
"Só que como convencer um fidalgo português a vir para cá sem lhe oferecer vantagens? A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância. Se não, ninguém viria."
Assim, a um oceano de distância da metrópole, criou-se um clima propício à corrupção, em que o poder e a pessoa se confundiam e eram vistos como uma coisa só, de acordo com Denise, que é professora de História do Brasil na Unesp.
No entanto, a historiadora deixa claro que a corrupção não é uma exclusividade do Brasil, é só uma peculiaridade da formação dessa característica no país.
"Temos enraizado uma tradição muito forte de poder relacionado ao indivíduo que o detém", avalia Denise. "E isso até hoje interfere na maneira como vemos os direitos e deveres desse tipo de funcionário."
Propina
"A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui sem vigilância. Se não, ninguém viria"
No Brasil colônia, assim como hoje, a corrupção permeava diversos níveis do funcionalismo público, segundo a pesquisadora. Na época, atingia desde o governador, passando por ouvidores, tabeliães e oficiais de justiça, chegando até o funcionário mais baixo da Câmara, que era uma espécie de fiscal de assuntos cotidiano.
A historiadora conta que documentos mostram esse funcionário protegendo ou favorecendo um vendedor mediante propina.
Se a corrupção encontrou um terreno fértil nas instituições políticas do litoral, a situação era ainda mais grave na colonização de regiões como Minas Gerais, Goiás e o sul do país.
Ainda mais longe dos olhos da coroa, esses locais só eram acessíveis após meses de caminhada - o que exigia ainda mais incentivos para os "fidalgos-desbravadores".
"A coroa portuguesa estimulava pessoas e dizia: 'vão para o interior e podem mandar à vontade por lá', na tentativa de garantir a soberania do império com alguém morando no local", diz Denise.
A escravidão, segundo a historiadora, também contribuiu para o desenvolvimento da corrupção no país. Isso porque era a única relação de trabalho existente, deixando o trabalho livre sem qualquer tipo de norma para regê-lo.
Essa realidade criava um ambiente vulnerável, em que não era claro, por exemplo, os deveres de um guarda municipal - abrindo, de novo, possibilidade de suborno e outros tipos de corrupção.
Fonte:

Mensalão e Fujimori

"Normalmente, o que se vê nesses países é apenas um esforço para melhorar as leis, como no caso do México, mas os ricos seguem sem ir para cadeia", diz o pesquisador. "É importante ver punições, daí a importância do mensalão ou de experiências em países como o Peru, que puniu efetivamente o ex-presidente Alberto Fujimori."
É por o Brasil estar nesse momento-chave que Salas considera extremamente importante o país ser a sede nesta semana da 15ª Conferência Internacional Anticorrupção (IACC), um evento bienal organizado pela própria Transparência Internacional e por sua representante no Brasil, a ONG Amarribo, e pela Controladoria-Geral da União (CGU).

Julgamento do mensalão foi citado como exemplo de mudança política no país
Para Salas, a conferência vai mostrar o quanto o Brasil está sendo observado pelo mundo, colocando mais pressão no país e servindo de incentivo para intensificar o combate à corrupção.
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Cautela
Se comparado a anos anteriores, o diretor da Trasparência Internacional diz que hoje os brasileiros estão mais conscientes sobre a corrupção. Mas se esse é outro motivo para otimismo, ele justifica a cautela com um alerta relacionado ao momento de euforia que o país vive, relacionado ao crescimento econômico e ao fato de o país receber grandes eventos como a Copa do Mundo.
"Quando um país começa a ter uma economia mais sólida, é mais fácil ver um cidadão comum perdoando atos corruptos, porque ele não faz um vínculo direito de como a corrupção o afeta", diz Salas. "Se agora ele tem um bom trabalho, um carro e se o ministro rouba, ele fica irritado, claro, mas acha que isso não o atinge diretamente."
No ranking de Percepção da Corrupção da ONG em 2011, o Brasil ocupou a 73ª posição, entre 183 países. Já no que lista o grau de proprinas pagas, o país ficou no 14º lugar - foram 28 países analisados.
O fato de o Brasil ocupar posições intermediárias nos rankings de corrupção e propina reflete bem, segundo Salas, o que está acontecendo no país: há muitos casos de corrupção, mas também muitas ações para combatê-la.
De qualquer jeito, o Brasil ainda tem muito o que avançar no índice da corrupção, para se aproximar dos países que ocupam os primeiros lugares, como Nova Zelândia, Dinamarca e Finlândia (empatados) e Suécia, e se afastar de seus 'vizinhos' no ranking, como Tunísia e China.
Combater a corrupção no país significa reduzir um custo estimado entre 1,38% a 2,3% do PIB, isto é, de R$ 50,8 bilhões a R$ 84,5 bilhões por ano, de acordo com um estudo feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) com base no PIB de 2010.
O menor valor daria para arcar com o custo anual de 24,5 milhões de alunos das séries iniciais do ensino fundamental ou comprar 160 milhões de cestas básicas ou ainda construir 918 mil casas populares.
Leia matéria completa em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121031_corrupcao_numeros_mdb.shtml

Leia também: Um total de 23% dos brasileiros não percebe que é corrupto

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“É preciso entender que as leis servem apenas para orientar a nossa convivência, como sociedade. Mas nosso comportamento como pessoas depende de nossos valores, do uso de nosso discernimento e da nossa liberdade. Não dependemos de governos, partidos e líderes para sermos honestos e verdadeiros. Os valores morais é que nos mostram o caminho do bem e da verdade, são eles que impedem o ser humano de praticar atos ilícitos. Quando não são importantes na vida das pessoas, não há sistema que impeça um lamaçal de corrupção e de maldades.

Caráter, consciência, amor à verdade e ao próximo, generosidade, fidelidade, responsabilidade, respeito ao alheio, senso de justiça, são essas as virtudes que comandam a vida pública. Abandoná-las é decisão pessoal. Toda culpa é pessoal. Ela é decorrente do mau uso da liberdade. A culpa é tão intransferível quanto as virtudes. Nossa luta é convencer nosso povo a se comportar de acordo com essa visão ética. Por isso devemos sempre querer que os culpados sejam punidos.” (Sandra Cavalcanti, professora e jornalista, foi deputada federal constituinte.- O Estado de S.Paulo)

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,os-culpados--devem-ser-punidos-,798388,0.htm